Os sinos da torre da Basílica de São Marcos começaram a tocar no momento em que a fumaça branca apareceu da chaminé da Capela Sistina, no Vaticano. Poucos instantes depois, os sinos da Catedral de Milão e da Catedral de Florença também começaram a repicar, num movimento que se seguiu em igrejas de todo o mundo, como em Belém.
O nome escolhido pelo pontífice já será um indício da tendência que ele seguirá em seu pontificado. Normalmente, o critério é homenagear apóstolos, santos ou Papas anteriores com os quais o eleito se identifica, e cujas características pretende invocar no Vaticano. Nomes como João, Bento, Gregório, Clemente e Leão são os mais populares.
O nome Pio, por exemplo, tende a uma restauração da Igreja. Pio XII foi um tradicionalista. João ou Paulo indicam uma abertura à renovação e reforma. Foi João XXIII quem convocou o Concílio Vaticano II, uma grande reunião da Igreja cujo objetivo era descentralizar e modernizar a instituição — e que depois foi seguida por Paulo VI.
Já o nome João Paulo seria uma inclinação à evangelização carismática, mas também à disciplina e ao conservadorismo, num perfil similar ao de Bento XVI. O cardeal Albino Luciani combinou os nomes de dois antecessores imediatos, João XXIII e Paulo VI. João Paulo I morreu em setembro de 1978, apenas 33 dias depois de ser escolhido Papa. Seu sucessor, Karol Wojtyla, escolheu o mesmo nome, e governou a Igreja até 2005.
Bento XVI, por exemplo, escolheu o nome por Bento XV e o santo europeu, padroeiro dos intelectuais e protagonista da evangelização da Europa. E o foco de seu pontificado foi a Igreja na Europa. Já Leão indica um engajamento nas questões sociais: Leão XIII (1878-1903) foi o Papa da Rerum Novarum (1891), a encíclica da questão operária.
Gregório é visto como um nome problemático. Com os prestigiados Gregorio I e Gregorio VII, seria dar continuidade a esse nome depois da marca deixada por Gregório XVI (1831-1846). Como Pio X, ele representou o catolicismo intransigente e anti-moderno que, segundo Beozzo, o Concílio Vaticano II buscou superar.
Manhã de decepção
Pela manhã, para frustração das centenas de pessoas que aguardavam na Praça de São Pedro, a fumaça preta saiu da chaminé da Capela Sistina às 11h30m (7h30m no Brasil), indicando que o pontífice ainda não havia sido escolhido. Caso um dos 115 cardeais do conclave tivesse conseguido o mínimo de 77 votos, a fumaça branca teria surgido. No início da tarde, o pouso de uma gaivota sobre a chaminé da Capela Sistina fez com que muitos se confundissem e achassem que era a fumaça branca.
Os trabalhos do conclave foram interrompidos para o almoço ao meio-dia (8h no Brasil) e retomados às 15h (11h no Brasil). De acordo com o porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, o Papa Emérito Bento XVI está acompanhando o conclave pela TV, em Castelgandolfo. Lombardi disse que a falta de um resultado pela manhã não indicava que os cardeais estivessem divididos e afirmou que isso já era esperado.
No início da manhã, os 115 cardeais assistiram a uma missa na Capela Paulina, no Palácio Apostólico do Vaticano. De lá, seguiram para a Capela Sistina, onde retomara a tarefa de eleger um Pontífice capaz de encarar a série de escândalos e as disputas internas que afligem a Igreja.
Desde as primeira horas do dia, peregrinos e turistas chegavam à Praça de São Pedro, no Vaticano, a despeito do mau tempo, na esperança de testemunhar o surgimento da fumaça branca na chaminé da Capela Sistina.
Na terça-feira, os cardeais se trancaram pela primeira vez na capela, após uma manhã pompa religiosa e oração, por meio das quais se preparavam para a tarefa. Apenas uma votação aconteceu na noite de terça, sem um resultado conclusivo. Nenhum conclave moderno chegou a uma decisão no primeiro dia, de forma que a fumaça preta saindo da chaminé não foi uma surpresa.
Tradicionalmente, a primeira votação é vista como uma forma de filtrar os possíveis “papáveis”, com os nomes dos primeiros colocados sendo trazidos à discussão nos dias seguintes. A maioria das apostas prevê uma conclusão na quinta-feira, embora a ausência de um favorito claro possa retardar o processo. “Um novo Papa amanhã” era a manchete do jornal italiano “La Stampa” nesta quarta-feira.
Uma vez iniciado o conclave, porém, é difícil fazer estimativas. Não se espera qualquer pista até que o novo Papa seja escolhido. O Vaticano foi particularmente cauteloso para evitar o vazamento de qualquer informação, chegando a utilizar equipamento para bloquear sinais eletrônicos.
Bento XVI deixou crises para o sucessor resolver
O novo Pontífice terá de carregar o fardo que, fevereiro, Bento XVI declarou estar além de sua capacidade física. A Igreja sofre com denúncias de abuso sexual contra crianças e o caso “Vatileaks”, no qual o próprio mordomo do Papa vazou documentos revelando corrupção e brigas por poder dentro da Cúria, a burocracia do Vaticano. Outros abalos vieram da rivalidade com outras igrejas, o avanço do secularismo, em especial na Europa, e problemas administrativos no Banco do Vaticano.
Os nomes mais citados entre os especialistas para ocupar o trono de Pedro são o italiano Angelo Scola - que devolveria o pontificado à Itália após 35 anos nas mãos primeiro do polonês João Paulo II e depois do alemão Bento XVI - e o brasileiro Odilo Scherer, que seria o primeiro Pontífice não europeu desde Gregório III, que nasceu na Síria e governou a Igreja entre os anos 731 e 741.
Fonte: O Globo
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